Tulio Paschoalin Leao

Sem distração das telas, apenas a vida passando

· Tulio Paschoalin Leao · 3 min

É uma manhã de sábado devagar e o clima está feio, no melhor dos casos, com nuvens por todo lado e uma garoa incessante, mesmo assim decidi passear para conhecer uma loja que tinha visto na noite anterior. Como ainda não tomei café da manhã, resolvo encontrar algo nas redondezas de onde vou, então pego o celular e analiso como chegar lá antes de sair do Wi-Fi, já que minha internet móvel não está funcionando.

Chego ao bairro da loja e minha primeira impressão é de que é um bairro de imigrantes, então logo penso em aproveitar para experimentar algo diferente. Encontro uma pequena cafeteria com poucas pessoas sentadas e entro. Um homem, que chamarei de Chefe Feliz, me recebe calorosamente: “Bom dia senhor! Mesa para um? Como está nessa manhã?”. Fazemos como manda o roteiro e conversamos brevemente sobre o clima, ele me deixa com o menu e volta para detrás do balcão e começa a conversar com outro homem, o Relaxado, em um idioma que não compreendo, então me distraio.

Do que parece ser o banheiro, vem andando um terceiro homem, o Vovô Simpático, andando lentamente e parando ocasionalmente para recuperar o equilíbrio. Ele cumprimenta os dois primeiros garçons e chama uma terceira, a Algo Estranho, para lhe dar um chocolate. Ela parece bem desconfortável com o gesto, mas diz “sabe, esse é meu chocolate favorito, obrigada!”. Ele prossegue com um sorriso, senta-se à minha direita e começa a contar suas moedinhas.

O Relaxado volta com um prato de café da manhã e senta à minha esquerda, o Vovô Simpático já emenda um “que pratão bonito hein!”, ouve como resposta “é mesmo, quer dividir?” e de tréplica diz “não, filho, obrigado, já comi mais cedo”. Então o Vovô entrega suas moedas para Algo Estranho, ela agradece e volta para o balcão, parecendo confusa.

Enquanto isso acontece, meu prato chega e é bem mais elaborado e apresentável do que eu esperava:

Um prato com um pote de salada, pão com ovo e recheio, tomates, aspargos, bacon e salmão defumado

Estou sozinho e sem internet no celular, então continuo a xeretar a vida das pessoas ao meu redor, enquanto como. Chefe Feliz volta com uma xícara de café para o Vovô Simpático e também para um terceiro cliente que estava quieto no canto em meio a uma pilha de cadernos onde escrevia aos poucos. Chefe Feliz o cumprimenta e pergunta o que ele está fazendo, ao que ele responde que é professor de inglês e está corrigindo trabalhos dos alunos de uma escola local e o garçom já responde “não brinca, eu estudei lá!” e eles continuam conversando sobre a escola.

Vovô Simpático termina seu café, se levanta e vira para o balcão dizendo: “tchau Chefe Feliz, te vejo amanhã… tchau Sorriso, espero que esteja se sentindo melhor”, ela ouve e nega com a cabeça, mas responde que ficará bem e ele sai.

Vejo o Relaxado ensinando como fazer café expresso para a Algo Estranho, entre outras coisas, e de repente tudo sobre sua feição desconfortável faz sentido: ela é nova no emprego!

Termino meu prato e penso sobre todas essas personalidades que acompanhei na última hora: será que teria notado esse microuniverso se tivesse com meu celular funcionando? Apesar do relato, não estava em qualquer pequena cafeteria do interior, pelo contrário, estava em um bairro de Londres, o que torna ainda mais improvável e misterioso o relacionamento íntimo que os funcionários tinham com os clientes. Não posso conter um sorriso ao sair de lá, vendo como o Vovô Simpático se esforçou para deixar o dia de todos mais leve, inclusive o meu, mas isso ele nunca saberá!

#motivação

Responda a este post por email ↪