As coisas hoje não duram, mas...
Outro dia eu estava fazendo alguma tarefa doméstica rotineira quando parei pra pensar sobre consumismo 1. Reparei que vez ou outra, quando você se envolve numa conversa com alguém que tenha vivido algumas décadas 2, você pode ouvir:
“Hoje em dia as coisas não são feitas mais pra durar, saudades das coisas de antigamente” (normalmente de duas ou mais décadas atrás)
Então olhei ao meu redor e pensei: será que duravam mesmo? Eu não tinha certeza e não queria começar uma guerra a respeito da obsolescência programada, mas me peguei observando meus pertences e como algumas coisas estavam ali há muito tempo. Achei que seria um post engraçado, tomei nota e segui a minha vida.
Passadas algumas semanas e cá estou, no aeroporto, esperando pelo meu vôo para Londres. Enquanto escrevi isso, paro e me dou conta de que será a primeira vez que volto lá em 10 anos, a última sendo quando estudei no Reino Unido por um ano na universidade de Southampton 3. E se isso não for nostálgico o suficiente, de repente percebo do que está ao meu redor e dou uma risadinha: não é que várias das coisas que estou levando na viagem são daquela época?
Abro o meu telefone 4 e começo a escrever esse texto. Eis aqui uma lista de coisas de uma década atrás que ainda tenho, e suas características:
- Carteira: Eu estava obcecado em ter uma carteira minimalista naquela época e comprei uma que tinha uma proteção “RFID” inovadora, que significava que ninguém poderia sorrateiramente ler os meus cartões através da carteira. Pagamentos por aproximação não eram difundidos no Brasil naquela época (nem mesmo na Inglaterra), mas se prova muito útil hoje, sendo o meu principal meio de pagamento.
- Mochila: Essa foi minha primeira vez no exterior e, quando cheguei lá, eu precisava de uma boa mochila para viajar com poucas coisas e de forma eficiente. Mal sabia que na era das “passagens internacionais sem direito a despachar bagagem” estaria usando ela hoje.
- Kindle: um presente por ser um voluntário muito ativo no TED 5, foi responsável pelos meus anos de leitura mais ativos no final dos anos 2010.
- Barbeador: Se me conhece, sabe que tenho muito pelo no rosto. Comprei um barbeador naquela época e ainda uso. Tudo bem que ele precisa de uma tomada no padrão britânico e é 220V (necessitando assim de um adaptador e um transformador, respectivamente), mas olha só, usei ele hoje antes de vir ao aeroporto!
- Garrafinha da CamelBak: Também um presente do TED, quando fui ao TED Global em 2014. Ela está com marcas de uso, mas levo ela todo dia à academia e acabou de ser responsável por eu ter de virar 750ml de água de uma vez para passar pela segurança do aeroporto.
- Bateria externa: repetidamente adquiro celulares cujas baterias me deixam na mão e esse item me salvou inúmeras vezes nas várias viagens da última decada. Fico impressionado que ainda funcione, dada a tendência que as baterias tem de morrer, um salve para a Tecknet, quaisquer que seja ou tenha sido essa empresa.
E a lista continua: computador, regatas, relógio de pulso… Não sei se sou só uma pessoa cuidadosa, se mantenho os objetos por mais tempo que deveria ou se pagar mais por algo que pareça mais durável está valendo a pena!
Provavelmente porque outra vez arrebentei as tiras de um chinelo meu. ↩︎
Duas décadas já é o suficiente, mas quanto mais velhos melhor para aumentar a chance de ouvir a celebre frase 😂. ↩︎
Fui um dentre os muitos brasileiros sortudos que pôde estudar um ano numa universidade fora pelo programa do governo Ciência sem Fronteiras. ↩︎
Não é um erro de digitação, é um telefone dobrável mesmo! ↩︎
Tenho uma longa história com o TED, parte dela já escrevi sobre no meu blog. ↩︎