TED e uma história de burnout
O LinkedIn1 é comumente utilizado para divulgar boas notícias e despedidas felizes, mas sinto que às vezes ele deveria ser mais profundo, por isso resolvi escrever sobre burnout.
Essa semana me afastei da minha responsabilidade de Coordenador de Idioma (CI) voluntário e Tradutor para Português Brasileiro e Inglês no TED. Foi meu primeiro contato com voluntariado, entrei lá em 2010 como uma forma de ocupar o meu tempo livre, assim como de melhorar o meu inglês, e alguns podem até dizer que foi o meu primeiro emprego. Naquela época, eu tinha apenas dezoito anos, com muita energia e obcecado por dar atenção a todos os voluntários e completar as tarefas existentes.
Acontece que foi meu primeiro burnout também.
O processo de tradução do TED é dividido em 3 estágios: qualquer um poderia fazer os dois primeiros, mas apenas Coordenadores de Idioma podiam fazer o terceiro, aprovações. Havia dezenas de tradutores para cada CI e tínhamos uma longa lista de pendências para lidar, essa inclusive não parava de aumentar. Sempre apareciam perguntas como “Quando minha legenda vai ser publicada” ou “Acabei minha tarefa há uns meses, alguém pode aprová-la?”, então me coloquei a trabalhar nisso.
Quando comecei a traduzir, escolhia os vídeos que tinham temas de meu interesse, mas como um CI eu escolheria qualquer coisa que estivesse na fila de aprovação, para que fosse liberada logo. Também usaria qualquer resquício de tempo livre que tivesse para aprovar legendas e isso rapidamente se tornou uma tarefa chata, mas eu realmente queria limpar a fila para que os tradutores não se sentissem frustrados e deixassem a comunidade. Em pouco tempo eu não estava mais traduzindo e revisando, apenas aprovando.
Me preocupar demais com os outros e não comigo mesmo foi a minha ruína.
A vida é um balanço delicado de expectativas que, se muito perturbadas, levam à frustração, chateação e burnout. Coloquei uma expectativa de que seria capaz de lidar com todas as aprovações, que as pessoas esperavam que aprovássemos as coisas rápido e que essa situação em breve seria administrável, se o TED cooperasse e entregasse as promessas feitas a nós. Nenhuma dessas expectativas foram atendidas. Estava usando todo o meu tempo livre e de lazer para trabalhar nisso, e não terminou bem.
Então eu tive um burnout.
Não sou um especialista para descrever e diagnosticar o que é um burnout, mas digo que se parece com um trauma. Se você se vê um dia desmotivado para trabalhar, com preguiça e procrastinando, não é burnout, mas se não consegue se imaginar perto daquelas tarefas, então provavelmente está muito próximo, se já não estiver em um. Eu já não queria encostar no projeto mais e raramente assistia os vídeos que eu costumava gostar, até hoje não vejo muita graça mais em assisti-los, o que é desconcertante, então reitero:
Se atente.
- Esteja ciente de quais são as suas expectativas e as deles.
- Não esqueça de fazer intervalos e pausas, sejam elas o quão longas você precisar para se sentir confortável outra vez.
- Saiba quando parar e pedir ajuda. Se for tarde demais, o prazer de fazer aquela atividade pode nunca voltar.
Se quiser conversar sobre isso, sou todo ouvidos. Fiquem seguros, fiquem sãos.
Essa postagem foi publicada originalmente como um artigo do LinkedIn, por isso a primeira frase. ↩︎